quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Pasta MarKaNy....


Já há algum tempo, venho desconfiando de que todo o alvoroço feito em torno do SOPA e do PIPA foi um blefe certeiro das indústrias fonográfica e cinematográfica juntamente com os governos interessados em satisfazer os interesses das duas. Como Eber Freitas já chamou atenção aqui mesmo no Administradores.com, a polêmica em torno dos dois projetos criou uma espécie de cortina de fumaça que acabou escondendo o ACTA, projeto mais ambicioso, que envolve vários países com o objetivo de controlar a internet sob o pretexto de combater a pirataria (vejam este post para entender melhor o assunto).

Mas eu acho que a coisa é ainda mais profunda. Espero estar errado, mas estou cada vez mais convencido de que na web – embora tenhamos uma fantástica sensação de liberdade extrema (o agravante do perigo) – somos ainda mais controláveis. Pela mera observação do dia a dia, percebo que – mesmo com um mundo à disposição – continuamos presos a conjuntos de espaços limitados e, como em qualquer outra mídia, acabamos nos tornando dependentes de serviços prestados por uma indústria que sabe da nossa vida como nenhuma Globo ou CNN soube um dia.

Com serviços de última geração, que facilitam nossas vidas e nos oferecem muito sem querer, aparentemente, muito em troca, elas nos têm nas mãos. Eu, por exemplo, uso uma infinidade de serviços do Google. Com a nova política de privacidade, as informações que forneci a todos esses serviços agora são cruzadas e, como vivo virtualmente uma parte considerável dos meus dias, essa boa parte da minha vida é quase que totalmente compartilhada com a companhia. Minha vida não interessa nem um pouco ao Google. Mas a vida de todos que utilizam seus serviços, sim. Imagine só o que é saber tudo sobre a vida de quase todo mundo que utiliza a internet. E some à gigante o Facebook, o Twitter, o Yahoo e tantos outros.



Pois bem. Mas isso já não é novidade. Muita gente já tem discutido em fóruns, cursos de comunicação e mídias digitais e mesas de bares. Mas – parodiando a metáfora que o pessoal do marketing digital sempre faz questão de usar para definir a internet – o inimigo é um iceberg. As ofensivas silenciosas, tenho certeza, andam a todo vapor. E nossas portas estão abertas.

Há alguns dias, por acaso, fui vasculhar minha pasta "arquivos de programa" do Windows, porque alguém aqui em casa andou vacilando na navegação e umas coisas estranhas andaram acontecendo em meu PC. Daí, analisando pasta por pasta, para saber o que estava instalado no computador, me deparei com uma chamada MarkAny. Como nunca havia instalado nada com esse nome, fui pesquisar e, após análises e testes, acabei descobrindo que ela não abrigava um aplicativo, necessariamente, nocivo. Mas, mesmo assim, não consegui entender por que ela estava ali. Até que encontrei alguém falando sobre uma suposta relação desse conteúdo com a Samsung.

Graças à porosidade da web (nosso grande artifício contra os grandes irmãos), viajei quilômetros de um site a outro e encontrei várias explicações que me deixaram de orelha em pé. Pelo que vários analistas – inclusive um que destacou o assunto no site do jornal britânico The Guardian – têm comentado, o aplicativo é de uma companhia que presta serviços de administração de propriedade intelectual e tem como objetivo combater a pirataria de músicas (encontrei esse site oficial). Ainda de acordo com as informações que consegui encontrar, ele pode bloquear alguns arquivos MP3 patenteados por seus clientes e é instalado juntamente com o software utilitário de aparelhos da Samsung.

Foi aí que caiu a ficha. Tenho um aparelho de celular desta marca e, provavelmente, o MarkAny veio parar em meu computador graças ao software do aparelho, que instalei para utilizar a 3G quando minha internet oficial ficou sem funcionar outro dia. E, tenho quase certeza, não me foi perguntado – durante a instalação – se eu concordaria em fazer a instalação complementar. Mesmo assim, como sei que a indústria não costuma dar nó em pingo d'água, acredito que a informação pode estar em alguma letra miúda daqueles contratos enormes que só marcamos "aceitar" e nunca lemos.

Tudo bem: a indústria tem todo direito de tentar garantir que seus produtos não sejam pirateados. Mas ela pode invadir nossa privacidade, na surdina, para isso? Será que softwares desse tipo têm como objetivo apenas bloquear MP# piratas? É legítimo as empresas utilizarem os mesmos artifícios dos criminosos virtuais (afinal, programas assim não deixam de ser trojans!)?

O assunto é polêmico e ainda deve render muitas discussões. O que você pensa sobre essa questão? Deixe seu comentário.

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